Uso de drogas estimulantes e HIV: há muito por fazer

03 de fevereiro de 2012 - Em 2009, entre 14 e 20 milhões de pessoas usaram cocaína e entre 13 e 56 milhões consumiram algum tipo de estimulante do tipo anfetamínico. O uso de drogas estimulantes, especialmente do grupo das metanfetaminas, aumentou na última década e novos padrões de consumo vem surgindo.

As drogas estimulantes estão disponíveis em diversas formas e graus de pureza, e os grupos que as utilizam também são diversos. A cocaína, por exemplo, pode ser aspirada, fumada e injetada. As metanfetaminas ou anfetaminas podem ser encontradas em pó, comprimidos, pasta ou cristais, enquanto que o ecstasy é geralmente oferecido em comprimidos ou em pó.

Na América Latina, por exemplo, o uso da cocaína fumada, ou o crack, vem se alastrando em alguns países. As populações de rua são os grupos mais afetados por esta tendência. Praticamente invisibilizado na sociedade, o consumo de estimulantes vem aumentando entre grupos como os trabalhadores do sexo, homens que fazem sexo com homens e travestis, e até o momento as estratégias para aumentar a disponibilidade e o acesso a serviços de prevenção e tratamento são limitadas.

Atualmente, não é mais preciso quebrar a lei para fazer uso de estimulantes. O uso de estimulantes prescrito tem aumentado consideravelmente na América do Norte e do Sul, possivelmente como uma forma que pessoas comuns encontraram para responder a padrões sociais que constantemente exigem, por exemplo, perda de peso, melhor desempenho sexual e no trabalho, menos tempo livre ou menos horas de sono.

Preocupados com o abuso de drogas estimulantes e as vulnerabilidades ao HIV, um grupo de alto nível de acadêmicos, pesquisadores e especialistas se reuniram em São Paulo, no Brasil, durante a Reunião Técnica Global sobre o uso de drogas estimulantes e o HIV. A reunião foi organizada pelo UNODC e sediada pelo Governo brasileiro.

O grupo teve como principal objetivo discutir e revisar estudos recentes e experiências de intervenção relacionadas ao uso de drogas estimulantes - incluindo a cocaína crack e estimulantes anfetamínicos - e HIV, e formular um conjunto de recomendações para os países sobre as intervenções relacionadas ao HIV entre usuários de drogas estimulantes.

A participação de especialistas de dez países, incluindo África do Sul, Brasil, Estados Unidos, Índia, Rússia e Tailândia, mostrou que o HIV e o uso de drogas estimulantes é uma preocupação global e marcou uma revisão abrangente e completa da literatura sobre o assunto a ser realizada pelo UNODC, trazendo à tona possíveis respostas sobre como prevenir e tratar o HIV entre pessoas que usam drogas estimulantes, nas formas injetada ou não injetada.

"Ainda precisamos aprender muito mais sobre os padrões de uso de drogas estimulantes, sobre os diferentes grupos que estão fazendo uso dessas drogas e como assegurar que essas pessoas tenham consciência sobre os riscos que elas correm ao fazer uso dessas drogas e as vulnerabilidades ao HIV. Também é essencial que as pessoas tenham acesso a atenção e tratamento", explica o representante regional do UNODC para o Brasil e o Cone Sul, Bo Mathiasen.

Apesar do encontro ter marcado apenas o começo de um processo mais aprofundado de investigação, coleta de dados e análises, alguns pontos já são consenso.

As vulnerabilidades dos usuários de drogas estimulantes ao HIV estão associadas principalmente às práticas sexuais de alto risco sem proteção e práticas pouco seguras de uso de seringas.

Esquecidos ou entre os grupos de pessoas mais estigmatizadas, eles em geral, não são alvos de programas para a prevenção do HIV e tem acesso restrito a tratamentos de dependência de drogas e antirretrovirais, bem como de prevenção ao uso de drogas.

"Precisamos lidar com uma gama adicional de vulnerabilidades como a homofobia, falta de moradias, automedicação, comorbidades, entre outras. As intervenções devem ser baseadas nos direitos humanos, ter sensibilidade cultural e requerem atenção não apenas nas drogas, mas em diferentes contextos de uso", avalia Christian Kroll, Coordenador Global para HIV/aids do UNODC.

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