Este módulo é um recurso para professores 

 

Exercícios e Estudo de Casos

 

Esta secção apresenta um conjunto de exercícios pedagógicos para realizar antes da aula ou durante a mesma. Uma atividade para realizar no final da aula e destinada a avaliar a compreensão dos alunos acerca do presente Módulo é sugerida numa secção separada.

Estes exercícios são apropriados para turmas de até 50 estudantes, nas quais os mesmos se podem organizar em grupos pequenos para discutirem os casos ou realizar as atividades, cabendo aos representantes de cada grupo transmitir as conclusões ao resto da turma. Embora também seja possível utilizar esta metodologia de trabalho em pequenos grupos numa turma grande, com várias centenas de alunos, tal é mais desafiante e o palestrante pode querer recorrer a certas técnicas de facilitação para garantir que haja tempo suficiente para as discussões em grupo e para a apresentação das conclusões de todos os grupos à turma. A maneira mais simples de viabilizar a discussão em pequenos grupos numa turma grande é pedir aos alunos que discutam os problemas com os quatro ou cinco alunos sentados ao lado deles. Dadas as limitações de tempo, nem todos os grupos poderão apresentar as suas conclusões em todos os exercícios. Recomenda-se que o palestrante faça seleções aleatórias e tente garantir que todos os grupos tenham a oportunidade de transmitir os seus comentários, pelo menos uma vez durante a sessão. Se o tempo permitir, o palestrante poderá promover uma discussão com toda a turma, depois de cada grupo ter apresentado as suas conclusões.

Todos os exercícios desta secção são adequados tanto para estudantes universitários, como para graduados. No entanto, as decisões sobre a adequação dos exercícios devem ser tomadas com base no contexto educacional e social, considerando-se que varia muito o conhecimento prévio dos alunos e a sua familiarização com estes problemas. O palestrante é incentivado a relacionar cada exercício com os temas-chave do Módulo.

Recomenda-se que os palestrantes comecem a construir um ambiente propício e amigável logo no início da aula e antes da realização do primeiro exercício. Isso pode ser feito através de atividades de “quebra-gelo”, analisando respeitosamente as orientações e opiniões iniciais dos alunos sobre a corrupção e demonstrando interesse genuíno nas suas perspetivas. Uma vez que os alunos passem a ver o palestrante como respeitador, genuinamente interessado nas suas orientações sobre o tema e consistente na gestão dos comentários maliciosos ou pejorativos de outros colegas, estará estabelecido um ambiente seguro que permitirá uma melhor e mais eficaz aprendizagem e desenvolvimento por parte dos estudantes.

Para preparar os casos de estudo enquanto metodologia de ensino, os palestrantes podem consultar o curto mas informativo texto “Discussões de Casos Paradigmáticos” do Instituto de Tecnologia do Illinois.

Os casos de estudo e os exercícios que se seguem podem ser associados a um conjunto de técnicas de ensino diversificadas, incluindo discussões individuais e em grupo, debates e simulações. Usando ferramentas tradicionais ou digitais de voto, os estudantes podem realizar uma votação inicial sobre como resolver um problema, discutindo depois o problema com o palestrante e votando de novo para ver se a sua opinião se modificou. Se as salas de aula tiverem acesso à Internet, os palestrantes podem considerar utilizar software para criar ou editar documentos online (como o Google Docs) para registar respostas escritas de estudante, individualmente ou em grupo. Os debates são apropriados para estudantes mais hesitantes em expressar as suas visões individuais, já que, desta forma, os estudantes expressam opiniões sem que tenham de as defender como próprias. As simulações são adequadas para consciencializar os estudantes das várias pessoas e interesses envolvidos em questões éticas, podendo ainda ajudar a criar grande empatia.

De entre os casos de estudo sugeridos nos exercícios 2 a 4 abaixo apresentados, os palestrantes podem escolher o material que melhor se adeque aos desafios colocados pelo seu próprio contexto. Para mais exemplos, de distintas partes do mundo, os palestrantes podem analisar os seguintes artigos:

 

Exercício Pré-Aula 1: Com que tipo de ambiente é que os estudantes e docentes estão familiarizados?

O palestrante pode encarregar os estudantes de responderem, antes ou durante a aula, ao quizQuão corrupto és tu?” e depois partilharem as percentagens com os demais. Os resultados serão mais interessantes se os estudantes basearem as suas respostas nas perceções da maioria das pessoas dos seus países. O palestrantes propicia a discussão em torno dos resultados do quiz, distintos ambientes e as questões mais complexas levantadas.

 

Exercício Pré- Aula 2: Quebra-gelo

Durante a aula, como um exercício quebra-gelo, com o auxílio da internet e de tecnologia digital (p.e. dispositivos de resposta imediata ou clickers), o palestrante pede aos estudantes que escrevam a primeira palavra que lhes vem à mente ao pensarem sobre corrupção no setor da educação. A tecnologia deve ser utilizada para colecionar respostas e gerar uma nuvem de palavras, exibindo visualmente a frequência com que determinadas palavras aparecem (identificando as que são mais populares e óbvias) e identificando as palavras e conceitos menos comuns. O palestrante pode utilizar este exercício como um ponto de partida para introduzir as diversas e, por vezes, menos óbvias manifestações da corrupção no setor da educação (vide a discussão sobre “O que é a corrupção no setor da educação” no separador Síntese dos Conteúdos Programáticos).

 

Exercício 1: Inquérito sobre Corrupção

Antes de aula, peça aos estudantes que analisem o Manual da UNODC sobre Inquéritos de Corrupção. Durante a aula, selecione um dos problemas de corrupção que os estudantes identificaram no setor da educação, preferencialmente um que os impacte diretamente. Em grupos, peça aos estudantes para esboçarem um pequeno inquérito. Peça aos estudantes para darem o seu inquérito a outro grupo da mesma turma e propicie a discussão em torno dos resultados.

Orientações para o palestrante

Uma experiência mais complexa mas enriquecedora seria colocar os estudantes da sua escola e comunidade a administrar e discutir o inquérito, embora isso possa levar muito mais tempo, esforço e preparação e exigir acompanhamento com debates e aprovações relativas à privacidade e ética de investigação.

 

Exercício 2: Caso de estudo “Compra o teu grau académico"

Um estudante a trabalhar a tempo inteiro num emprego mal pago vê uma publicidade sobre uma licenciatura em gestão que não carece de presença às aulas. Comparando-a com outras licenciaturas online, esta universidade exige o pagamento de propinas relativamente baixas e que o estudante pode pagar. Não existem pré-requisitos para se registar no curso e não é necessário dispensar um mínimo de horas do seu dia para assistir às aulas do curso e para estudar. O estudante paga as propinas e, após um esforço mínimo para a conclusão de algumas disciplinas, recebe o seu diploma. O estudante candidata-se a um trabalho e é contratado para uma posição com base na sua qualidade de licenciado.

Orientações para o palestrante

Para auxiliar o caso de estudo, o palestrante pode indicar este relatório. Utilize as seguintes questões para guiar a discussão em aula em torno do caso:

  • Este caso de estudo levanta problemas de corrupção? Se sim, que ato de corrupção foi cometido e por quem?
  • O que levou o estudante a procurar este novo grau académico?
  • Que condições permitem à universidade oferecer este tipo de curso abaixo dos standards normais?
  • O que é que controlo de qualidade tende a significar, geralmente, no contexto da corrupção no setor da educação?
  • Quais são os principais sinais de que uma licenciatura não dispõe de suficiente qualidade e credibilidade e pode, de facto, ser objeto de uma transação corrupta?
 

Exercício 3: Caso de estudo “Suborno para admissão”

Uma universidade de elite num país em desenvolvimento estabeleceu a prática de os estudantes terem de pagar para ser admitidos, exigindo ainda pagamentos adicionais para assegurar a obtenção de uma bolsa. Por outro lado, uma universidade de elite de um país desenvolvido estabeleceu uma prática de aceitar elevadas contribuições a título de doação para criar bolsas, fundos de investigação e construir edifícios no seu nome, o que, por sua vez, aumenta largamente a probabilidade de os filhos de quem realizou a doação ser admitido na mesma. 

Orientações para o palestrante

Os dois casos devem promover a reflexão sobre questões levantadas pela corrupção por intermédio de pagamentos realizados com vista a assegurar a admissão em universidades aos estudantes em países em desenvolvimento e em países desenvolvidos. No entanto, o palestrante pode também concentrar-se apenas em um dos dois exemplos, dependendo do tempo disponível e do contexto dos estudantes. Para complementar estes casos de estudo, fornecendo maiores detalhes sobre como os subornos para entrar em universidades surgem nestes casos tão distintos, o palestrante pode recomendar a leitura deste artigo. Sobre suborno nos países desenvolvidos, o estudante pode ainda analisar este artigo.

Utilize as seguintes questões para guiar os estudantes na discussão deste caso:

  • As universidades de elite de ambos os países estão a envolver-se em atos de corrupção e, se sim, o que é corrupto em cada caso?
  • De que forma é que as ações de ambas as universidades se aproximam e em que é que são distintas?
  • Quais é que considera serem os custos reais e potenciais e os benefícios derivados do facto de tais universidades se envolverem nestas práticas de admissão?
  • O facto de o primeiro pagamento não ser declarado à universidade e o segundo ser declarado faz alguma diferença? Porquê?
  • Que fatores podem fazer com que os pagamentos declarados pareçam ser menos corruptos (por exemplo, o valor ou o momento em que foram realizados)?
  • Faria alguma diferença se, em qualquer um dos países, as universidades em causa fossem públicas ou privadas?
 

Exercício 4: Caso de estudo “Corrupção sexual”

Presuma que faz parte de um comité da universidade encarregue de determinar como responder às ações de dois docentes descritas abaixo. Aborde cada caso separadamente e depois compare os dois casos:

Caso 1: Um/a docente ameaça um/a estudante com uma reprovação à unidade curricular, a menos que o/a estudante lhe preste favores sexuais.

Caso 2: Um/a estudante tem um desempenho aceitável nas aulas e, depois das mesmas, o/a mesmo/a começa a auxiliar o/a docente numa investigação para um livro. Para agradecer ao/à estudante pela sua ajuda, o/a docente leva o/a estudante a almoçar, momento durante o qual têm uma grande conversa. O/a estudante tem uma “grande conexão” com o/a docente e ambos começam a sair. O/a estudante nunca antes tinha tido uma relação romântica. Passado algum tempo, o/a docente e o/a estudante têm relações sexuais no gabinete do/a docente por duas vezes. Uma vez denunciada a situação ao comité de ética da instituição, o/a docente insiste que ambos tinham uma relação romântica. 

Orientações para o palestrante

Os dois casos pretendem estimular a reflexão sobre questões de ética e corrupção suscitadas quando os docentes têm relações sexuais com estudantes, em duas circunstâncias distintas. No entanto, os palestrantes podem também selecionar apenas o exemplo que melhor se adeque aos desafios existentes nos seus países e concentrar-se nele. Se o palestrante quiser recorrer a uma abordagem comparativa, mas sentir que discutir questões de índole sexual é inapropriado no seu contexto, poderá sempre modificar os casos de estudo referindo-se a presentes ou outros favores.

Para complementar este caso de estudo, os palestrantes podem indicar este artigo. O palestrante deve ainda notar que o segundo caso de estudo é baseado no caso de Tey Tsung Hang, docente na Faculdade de Direito NUS em Singapura. Materiais adicionais de leitura sobre exploração sexual no setor da educação incluem o artigo de Fiona Leach sobre corrupção como abuso de poder no Relatório Global de Corrupção: Educação (2013) da Transparência Internacional ou este artigo de jornal.

Utilize as seguintes questões para guiar os estudantes na discussão deste caso:

  • Houve corrupção em algum destes casos? Porquê?
  • Quais as semelhanças e as diferenças entre os dois casos?
  • No segundo caso, existiu algum comportamento inaceitável ou corrupto durante as aulas que o/a estudante frequentou? E depois de o/a estudante já não frequentar mais a disciplina?
  • Qual o problema colocado pelo facto de o/a docente ter tido relações sexuais com um/a estudante já não inscrito/a na sua disciplina, mas ainda inscrito no curso em que o/a mesmo/a leciona? Por exemplo, seria relevante se o/a estudante pudesse inscrever-se em outras disciplinas lecionadas pelo/a docente? Como ficam os/as estudantes, bem como os seus colegas, vulneráveis neste contexto?
  • Em ambos os casos, qual é a pena adequada para o/a docente? Devem as penas ser diferentes nos vários casos?
  • Algum países podem impor penas ao/à próprio/a estudante. Seria essa a melhor solução? Porque sim ou porque não?
  • Que políticas gostaria de delinear para prevenir os comportamentos corruptos identificados nestes exemplos? 

 

Seguinte: Exemplo de Estrutura de Aula
Regressar ao início